O cacique do PMDB, Geddel Vieira Lima, conseguiu se superar mais uma vez. A Polícia Federal descobriu ontem, num apartamento no bairro nobre da Graça, em Salvador, de “uso” do ex-ministro golpista de Temer, uma montanha de dinheiro escondida em malas e caixas de papelão. A PF varou a noite e, após contagem cédula por cédula, com direito a divulgação de parciais, a conferência contabilizou a impressionante quantia de R$ 51 milhões em dinheiro vivo (R$ 42.643.500,00 e US$ 2.688.000,00).

Contagem da cifra milionária terminou somente na madrugada desta quarta, 6
Segundo reportagem do jornal conservador O Estado de São Paulo, uma das pistas seguidas pela Polícia teria sido o depoimento do doleiro Lúcio Funaro, preso na Papuda, que teria afirmado ao Ministério Público Federal (MPF) ter feito viagens à Bahia e entregue, no Aeroporto de Salvador, malas de dinheiro à Geddel. Em julho, o ex-ministro de Temer, que caiu por tentar pressionar a liberação junto ao IPHAN de uma obra fora dos padrões instituídos pelo órgão de defesa do patrimônio histórico, foi preso por atrapalhar as investigações (Operação Cui Bono). Geddel foi levado da Bahia para Brasília no dia 3 de julho, onde iria ser conduzido para o presídio da Papuda. Nove dias depois o ex-ministro golpista, que iria ter a cabeça raspada, seria mandado para casa por ordem do desembargador do TRF 1ª Região, Ney Bello (Bello leciona na faculdade do famigerado ministro do STF, Gilmar Mendes, segundo o colunista de O Globo, Lauro Jardim).
Ficha corrida de Geddel impressiona

Após ter a cabeça raspada, Geddel chorou em audiência de custódia, mas teve o pedido de liberdade negado e teve que voltar para o presídio da Papuda; ele seria mandado para casa pelo desembargador do TRF-1a, Ney Bello, que leciona na faculdade do afamado ministro do STF Gilmar Mendes
A “estreia” de Geddel em escândalos de corrupção seria em 1993, quando o seu nome iria figurar no escândalo dos “Anões do Orçamento” (desvio de verbas via emendas do orçamento da União). Em 2001, Geddel conseguiria a “façanha” de ser chamado de corrupto por outro cacique que fizera fortuna na política, o finado Antônio Carlos Magalhães, também conhecido como “Toninho Malvadeza”. ACM, que fizera escola na Bahia em matéria de desmandos, talvez estivesse impressionado com a voracidade do rechonchudo Geddel e o denunciou num vídeo intitulado “Geddel vai às compras”. Após participar de protestos anti-corrupção em 2015, num cinismo a impressionar quiçá Freud, Geddel foi acusado de atuar em causa própria no caso “La Vue”, um empreendimento luxuoso na concorrida ladeira da Barra, em Salvador. Ele teria pressionado o ex-ministro da cultura, Marcelo Calero, a liberar a obra, que havia sido embargada pelo Iphan.
Após ter sido mandado para cumprir prisão em regime domiciliar, o ex-ministro de Temer continua há 60 dias sem tornozeleiras eletrônicas por falta do equipamento na SEAP (Secretaria de Administração Penitenciária), segundo o G1. Em julho, o programa Fantástico produziu uma matéria bombástica mostrando a assombrosa fortuna de Geddel, que apenas em fazendas na próspera região de Itapetinga, no sudoeste da Bahia, possuía a bagatela de R$ 67 milhões (assista aqui).
Vice-prefeito de Salvador foi indicado por Geddel
Os tentáculos de Geddel na Bahia não são de se subestimar. Após auditoria do TCU em 2010, veio à tona que, em 2008, quando ministro da Integração Nacional, o cacique do PMDB havia destinado mais de dois terços das verbas de prevenção de tragédias do ministério para a Bahia sem critérios técnicos (leia aqui). Era ano de eleições municipais e o ex-ministro golpista apoiaria o fracassado prefeito João Henrique, que também se filiaria ao corrupto PMDB. Passados quatros anos, Geddel virou a casaca e declarou apoio ao candidato opositor, ACM Neto (DEM), mostrando que sua “ideologia” é os “negócios” (ainda que escusos).

ACM Neto apoiou Geddel para o Senado nas eleições de 2014; em troca, o cacique do PMDB o apoiou nas eleições de 2016; o vice de ACM Neto, Bruno Reis, foi indicado por Geddel
Após trocas de afagos e juras de amor eterno, Geddel iria ganhar a confiança do novo aliado e indicaria a concorrida vaga de vice na chapa das eleições para Prefeitura de Salvador, em 2016 (Em Vitória da Conquista, o ex-ministro golpista iria apoiar, na sua desvairada cruzada anti-corrupção, o radialista Hérzen Gusmão, que interromperia um ciclo de 20 anos de exitosas gestões petistas). A ex-vice-prefeita Célia Sacramento (um tímido gesto de Neto para a população afrodescendente local) seria preterida e perderia a disputa para o indicado de Geddel, o desconhecido Bruno Reis. O alvoroço em torno da vice-prefeitura, evidentemente, era pelo burburinho dos bastidores da possível (e arriscada) candidatura do prefeito de Salvador ao governo do estado, em 2018. Optando por se candidatar, ACM Neto teria que abdicar do cargo e o vice-prefeito indicado por Geddel tornar-se-ia prefeito, assumindo, com isso, a chave do a cada dia mais abastecido cofre da Prefeitura.
A escandalosa e assombrosa quantia apreendida no apartamento da Graça ontem – a maior apreensão em dinheiro vivo da história do País – mostra definitivamente a “honestidade” que Geddel reivindicava no Farol da Barra, em 2015 (assista aqui). Valentão quando provocado pela internet, o “suíno” (pseudônimo dado pelo ex-colega, o cantor Renato Russo, que não lhe tolerava) chorou ao pé do juiz na audiência de custódia, implorando por sua soltura, em julho. Desta vez, parece que finalmente a casa caiu para Geddel. A sua imediata prisão é uma questão de horas!